Um dos melhores livros que li nesse verão se chama "A Mulher de Trinta Anos", de Honeré de Balzac. Sim, é dele que surgiu a expressão "mulher balzaquiana", para se referir às mulheres maduras. O livro conta a história de Julia, desde a juventude até a velhice.
Um dos melhores trechos é quando o pai da Julia descobre que ela está apaixonada pelo coronel Vitor. Vejam só o conselho dele:
Pois bem, minha filha, escuta-me. As moças sonham muitas vezes com uns seres nobres e encantadores, criaturas perfeitamente ideais, e assim forjam umas quiméricas fantasias acerca dos homens, dos sentimentos e do mundo. Depois, elas atribuem inocentemente a um caráter as perfeições com que sonharam, e nele confiam. Elas amam no homem da sua escolha este ente imaginário, porém, mais tarde, quando já não podem fugir à desgraça, a aparência enganadora que elas embelezaram, o seu primeiro ídolo, enfim, muda-se num esqueleto odioso. Júlia, eu preferia que amasses um velho a ver-te amar o coronel. Ah! se pudesses adivinhar o que sucederá daqui a dez anos, farias justiça à minha experiência. Conheço Vitor: sua alegria é sem espírito, alegria de caserna, não tem talento e é perdulário. É um desses homens que o céu criou para comer e digerir quatro refeições por dia, dormir, amar a primeira que lhe aparece e bater-se. Não compreende a vida. O seu coração, porque o tem, leva-lo-á talvez a dar a bolsa a um desgraçado, a um camarada. Porém, é um indiferente, e não possui essa delicadeza de coração que nos torna escravos da felicidade de uma mulher.
Lindo né?No começo, ele fala sobre algo que acontece com a maioria das adolescentes: elas sonham com um cara perfeito, ai vêem um rostinho bonito e imaginam que ele tenha tudo que elas querem. Antes de conhecer o sujeito direito, elas já imaginam um bebê com a cara dele. Na época da Júlia, elas casavam muito jovens. Então, só depois de casadas é que viam a burrada que tinham feito.
A análise que o pai da Júlia faz sobre o Vitor é muito boa. Eu conheço dúzias de caras como o Vitor, que são figurantes da vida dos outros. Eles não são maus, pelo contrário, são até bonzinhos. Mas e dai? A vida passa e eles continuam os mesmos. Não destroem nada, mas também não constroem. São indiferentes.
A frase final é a mais foda do texto. Pode parecer uma bobagem feminista, mas não é não. O que eu noto é que os homens são, por natureza, bem acomodados. As mulheres tentam agradar, não magoar, imaginam 1000 vezes "o que será que ele tá pensando"... Já eles, bom, nem sempre. Pior ainda: elas precisam lutar, com unhas e dentes, pra ser ouvidas sem levar patadas.
Vou criar uma historinha pra dar de entender melhor...
O casal sempre plantou alfaces na horta. A esposa não gostava de alface, mas como não sabia plantar outra coisa, ela ficava quieta. Então, um dia, ela vê uma revista ensinando como plantar suculentos espinafres, e sugere ao marido que eles plantam na horta. Ai ele olha pra ela e diz: "Pra que essa frescura agora? A gente sempre comeu alface!".
É por ai...
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